Friday, February 03, 2006

A morte...

Vivo quase diariamente a morte. Quem pensa que nos tornamos imunes perante ela engana-se. Sofre-se sempre umas vezes mais que outras. Umas porque nos identificamos com a situação do outro outras porque o sofrimento foi aliviado para sempre. Quando me concentro no corpo que acabou de lutar, penso sempre na historia daquela pessoa, como teria sido a vida dela, se foi feliz, se ela alegre, se viveu intensamente. Enquanto cumpro os rituais pós-mortem continuo a pensar como sentiu os últimos momentos, sera que a alma ainda esta ali a observar-me?
Estes pequenos minutos em que estou com um corpo sem vida sinto-me em paz, normalmente calma e serena mas triste, não sei bem porque...talvez porque a morte não me causa repugnância. Sonho
desde pequena com a morte das pessoas que amo, muitas vezes, pelo medo de as perder e pensar de como sera a minha vida sem elas. A minha propria morte não me assusta tanto.
A maior parte da vezes a morte é o fim do sofrimento, é o fim da luta em que a doença vence, é o inverso da vida. Mas a morte tambem causa revolta e interrogações. Poderia ter feito mais para salvar aquela pessoa? Quando faço tudo para salva-la e ela não quer ser salva...será que lhe devia ter dado a mão para não sentir medo de deixar a vida? A vivência da morte é tão complexa, causa tantos sentimentos que é dificil de descrever. A
morte faz-me viver mais!
Tenho de viver intimamente com ela enquanto for Enfermeira...

10 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Aninha, desculpa só fazer-te uma visita hoje. Adorei.. ´
Realmente és fantástica como amiga, como profissional, como escritora:) Ao ler as tuas palavras imaginei-te na correria do nosso dia-a-dia..e ainda passei a dar mais valor aquilo que fazemos!
Obrigada. Beijinhos

6:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

tao corajosa que es... admiro te imenso so por este bocadinho que li.sentir o que enfrentas tds os dias arrepia me imenso...ao contrario de ti, tenho pavor a morte...ao corpo sem vida...e sinto imensa raiva dentro de mim por nao ter conseguido simplesmente ver o meu irmao pela ultima vez...sem vida...esse estado arrepia me e nao sei lidar com isso...vivo revoltada pela morte o ter levado tao cedo...talvez por essa separacao tao dolorosa...e por saber lidar com tudo isso. beijo e coragem!

1:30 PM  
Anonymous Anonymous said...

tao corajosa que es... admiro te imenso so por este bocadinho que li.sentir o que enfrentas tds os dias arrepia me imenso...ao contrario de ti, tenho pavor a morte...ao corpo sem vida...e sinto imensa raiva dentro de mim por nao ter conseguido simplesmente ver o meu irmao pela ultima vez...sem vida...esse estado arrepia me e nao sei lidar com isso...vivo revoltada pela morte o ter levado tao cedo...talvez por essa separacao tao dolorosa...e por saber lidar com tudo isso. beijo e coragem!

1:30 PM  
Blogger Unknown said...

Pois é minha amiga... são coisas assim que nos deixam a pensar... mas contra factos não há argumentos... é uma situação a qual ninguém pode fugir, no emprego, na familia, nos amigos, etc. todos um dia temos de a enfrentar, e o sobrevivemos e continuamos em frente... ou nós deixamos abater... e como penso que, quem parte, "acreditando ou não" estará num "lugar" a olhar por ´"nós" não o iria querer assim... sigo em frente com saudade de quem parte e tentando fazer feliz quem fica... e um lema de vida... "dar valor, carinho, respeito etc., em vida," ... não "chorar" após a morte... e recordar com carinho o que por essas pessoas foi dado...

8:45 AM  
Blogger Yashmeen said...

Uma perspectiva muito interessante, a de quem lida com a morte todos os dias e de uma forma supostamente "científica".
Aliás, este blog é bastante interessante no seu todo.

12:33 PM  
Anonymous Anonymous said...

Nem sei pq vim a este blog, talvez pq td o que diga respeito a enfermagem me fascine tanto.. nao sei quem es nem como es, mas pelo que li, es aquilo que eu mais quero ser nesta vida.. enfermeira.. por isso queria apenas dar.te os meus parabens, pq a meu ver todas as pessoas que estão nesta profissão tem de ser como tu, nao tratar os doentes como se fossem um objecto que lhe da o ordenado ao final do mes, mas como alguem que esta a sofrer e que precisa de «nos» para aliviar essa dor.. falas na morte, e penso que seja mt dificil dar tudo por tudo para salvar uma vida e nao conseguir, mas nao ha nada mais bonito na vida do que ver que pudemos contribuir para um sorriso de uma pessoa que sofre.. espero um dia poder falar no presente e dizer eu sou enfermeira, pois so essa profissão me faz brilhar os olhos mesmo sabendo que nem sempre e facil... um beijinho de alguem que admira todos os enfermeiros desde que trabalhem com o coração e humildade*

7:33 AM  
Blogger Lilith said...

A morte, tema sempre fascinante e aterrador. Gostei de conhecer a perspectiva de quem lida com ela todos os dias

8:57 AM  
Blogger ' Claudjinha said...

A minha mãe nunca foi enfermeira,mas já foi ajudante de. Eu era muito pequena e não me lembro de muito,mas lembro-me dela relatar algumas coisas parecidas com as que tu aqui relatas.

Adorei este texto! Aliás,adoro o teu blog todo. E a tua profissão é admirável :)

7:13 PM  
Anonymous Anonymous said...

Acabo de me formar no ensino médio, e vivo um dilema enorme sobre qual profissão seguir. Sempre quando estava em hospitais, observava os enfermeiros andando de um lado ao outro. Uns mais carinhoso, outros mais fechados a si. Pensava que profissão bonita a seguir .. mas pensava não ser capaz. Minha família tem 3 enfermeiros formados em áreas diferentes. E sempre me relatam quão difícil mas linda a jornada deles. Agora com 18 anos, não vejo outra coisa a seguir.. a não ser a de ajudar os outros !! Seu blog está me ajudando muuuuito. Obrigada.

2:44 PM  
Blogger Unknown said...

Ontem Perdi o Meu Avô que era Alcolatra, quer dizer, bebeia quando queria e perdurava meses.Eu tive a oportunidade de abraça-lo e dizer que o amava quando num dia anterior a morte e ele disse que me amava, me abraçou, chorou. Eu nao consigo lhe da com isso, penso numa forma de falar com ele por uma ultima vez, estou tao deseperada. Tenho 20 anos estou no setimo periodo de enfermagem, ele tinha muito orgulho de mim e dizia que eu ia cuidar mto dele ainda. Essas palavras estao tatuadas no meu coraçao. Um caminhao pipa passou por cima dele quando ele caiu na pista Ce282 Icó Ceara, uma cidade do Interior. Abraço, amei suas palavras, exatamente como me sinto.

4:20 AM  

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